Pix é o dinheiro do futuro porque estamos viciados em instantaneidade

Por Marcolino Joe

Foi preciso um Nobel da Economia para o brasileiro começar a olhar com mais respeito para o que ele mesmo criou. Em seu artigo “Has Brazil Invented the Future of Money?”, publicado no dia 8 de julho de 2024 em seu Substack, Paul Krugman escreveu com todas as letras: “O Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro”.

E ele não está errado. Enquanto os Estados Unidos ainda tropeçam em sistemas bancários engessados, lobby de cartões de crédito e modelos de negócio baseados em taxas obscuras, o Brasil criou um sistema público, gratuito, eficiente e universal. Um sistema que pegou porque resolve o problema básico de transferir dinheiro com velocidade, sem custo e sem burocracia. E mais: o Pix não é só eficiente, ele incomoda.

Incomoda as big techs, que investem em seus próprios meios de pagamento. Incomoda a Visa e a Mastercard, que vivem de intermediar o óbvio. Incomoda um sistema financeiro global onde o dólar sempre foi o centro. Porque, sim, enquanto a gente se distrai com escândalos de WhatsApp, o BRICS avança silenciosamente em formas de comércio que dispensam o dólar e o Pix, nesse cenário, não é só uma facilidade. É um risco geopolítico.

Não por acaso, os EUA estão de olho. Porque o Pix funciona. E, pior: funciona sem depender deles.

E não é só isso. O Banco Central já prepara o Drex, a moeda digital que pode, entre outras coisas, empurrar os cartórios para o século XXI. Fim de fila, firma reconhecida e carimbo com cheiro de mofo. O Brasil, mesmo tropeçando nas próprias pernas, criou uma solução que mira diretamente na burocracia que a gente naturalizou.

E o povo gostou. Porque o Pix é rápido, prático, direto. Caiu no gosto da população porque a lógica da instantaneidade já domina o nosso tempo. Tudo é agora: comida, opinião, compra, resposta e até relacionamento. O Pix só embarcou nessa onda. E talvez isso diga muito sobre o Brasil de hoje, mas isso é outra conversa.

O que importa aqui é que criamos algo público, estatal e funcional. E o mundo está prestando atenção. O futuro do dinheiro pode até falar inglês. Mas aprendeu a transferir em português. Porque como dizia Eduardo Galeano, “a América Latina é uma região do mundo condenada a andar com as pernas amputadas. E mesmo assim caminha.” O Pix é só mais uma prova de que, apesar de tudo, seguimos andando. E agora, transferindo.

Marcolino Joe é cineasta e estrategista sergipano.

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